“O sector sofrerá alterações profundas”
JóiaPro · Que objectivos estiveram na base do nascimento da Portugal Watches?
António Neto · Trabalho há muitos anos neste sector e, cedo, me apercebi da falta de bom senso que existe no mercado. A ourivesaria e a relojoaria constituem as únicas áreas de actividade sem uma época de saldos, tudo por falta de margem. Além disso, os distribuidores das marcas instalam-se nas lojas, assumem a margem que querem, favorecendo a distribuição e dificultando a sobrevivência dos lojistas, situação que está a provocar a asfixia do sector. As margens de lucro deveriam assemelhar-se às da Europa. As lojas são a porta de saída para todos os produtos e isso deveria ser bem valorizado. Há várias empresas estrangeiras que se instalam em Portugal, com menos 20/30 por cento de margem do que nos seus países de origem. Porquê? Além de dar menos margem, querem receber dentro dos prazos estabelecidos. Não há milagres! Não há margens, não há dinheiro, logo não há pagamento dentro dos prazos.
JP · E de que forma poderão atingir-se os níveis do mercado europeu?
AN · Basta que os distribuidores respeitem as margens mínimas de manutenção, para que tudo comece a alterar. O ponto de escoamento dos produtos está nos espaços comerciais, portanto eles têm que ser auto-suficientes para sobreviver. Trata-se de apelar à consciência de todos os fornecedores. A marca mais importante dentro de uma loja é a própria loja. Nenhuma marca pode estar acima da mesma.
JP · Acha que com a representação do grupo francês SMB Horlogerie conseguirá mudar alguma coisa em Portugal?
AN · Este grupo reúne exactamente aquilo que eu pretendo para o mercado português. Trata-se de um projecto que proporciona margem às lojas, qualidade e ‘design’ de produto. Além disso, a publicidade, inerente aos relógios Hector, GO, Tekday e Certus, e à insígnia de joalharia Inori, é extremamente importante para cativar os clientes. Quando as pessoas se deslocam às lojas, procuram artigos que possuam uma imagem forte associada, assim como qualidade a preços acessíveis. Neste sentido, a Portugal Watches tem o que é necessário para alcançar o sucesso. Com esta representação, quero também dar o exemplo a outras empresas e mostrar que é possível o sector trabalhar com outro nível de margens. Queremos o nosso cliente mais forte financeiramente, para que possa ultrapassar rapidamente este período menos favorável da economia e do sector em geral.
Leia a versão integral da entrevista na JóiaPro nº 36
17 de Janeiro, 2011
Entrevistas