“A minha ourivesaria é uma das mais portuguesas”
Com uma história de vida incrível, Manuel Freitas é o “rosto” da Ourivesaria Freitas, uma das mais antigas de Viana do Castelo. O economista, professor, empresário, político, escritor, ‘designer’ de jóias, e surfista nos antigos tempos livres, defende acerrimamente a elevação da ourivesaria tradicional portuguesa.
JóiaPro: Como é actualizar um negócio com quase um século?
Manuel Freitas: É fácil! Aqui não sentimos a crise de que tanto se fala. E o segredo reside na nossa forma de trabalhar. Não nos actualizamos com as “modernices” que vêm do estrangeiro, desenvolvemos sim o que há de extraordinário em Portugal. Temos que aproveitar a cultura fabulosa que os nossos antepassados nos deixaram e, além disso, a mão-de-obra dos grandes artistas que existem cá. A minha ourivesaria é uma das mais portuguesas do país, já que quase tudo o que vendo é ‘made in Portugal’ e isso faz com que muita gente venha de propósito fazer compras a minha casa.
JP: Apostar na tradição portuguesa é então a grande filosofia da sua ourivesaria…
MF: Sem dúvida, pois pobre do país que tem vergonha das suas origens e da sua história. Devemos acreditar que somos um povo extraordinário, com uma das culturas mais importantes da Europa. Se não conseguirmos defender os nossos valores, caímos no “charco”. De qualquer das formas, há sempre espaço para inovar e incrementar a distinção. Desenvolvi, em tom de brincadeira, anéis para vários tipos de pessoas, que colam o olhar dos transeuntes à nossa montra. São peças para divorciados, cibernautas, homossexuais, “encalhadas”, entre outras. É algo que proporciona sentido de humor ao negócio.
JP: Revelou diversas facetas ao longo de 71 anos. O que é que lhe falta fazer?
MF: Os sonhos são muitos. Em primeiro lugar, gostaria de criar uma escola de investigação etnográfica e ligada à ourivesaria em Viana do Castelo. Por outro lado, queria desenvolver um curso de ourivesaria na Escola Profissional, também aqui da cidade. O grupo de jovens que integrasse este curso poderia depois formar uma cooperativa de ourives. Além destes dois objectivos, há vários anos que pretendo oferecer a Viana do Castelo e ao país todo o espólio do Museu da Ourivesaria Tradicional, que inclui, para já, cerca de 604 peças em ouro popular. A doação já foi feita mas, por falta de capacidade de armazenamento, apenas um quarto destas jóias está patente na Fundação Eduardo Feitas, inserida no Museu do Traje de Viana do Castelo, desde 30 de Julho de 2011. O espólio restante será entregue muito em breve a esta Fundação criada por mim em homenagem ao meu filho. Um outro desejo que tenho em mente, talvez o maior de todos, passa por conseguir que a ourivesaria tradicional portuguesa seja tida como PATRIMÓNIO IMATERIAL DA HUMANIDADE, uma tarefa que as entidades competentes poderiam iniciar… Está lançado o desafio!
Entrevista na íntegra na JóiaPro 41
14 de Setembro, 2011
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